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PALAVRAS DA CURADORIA

Uma das tarefas da nossa curadoria foi assistir a todos os filmes inscritos, definir quais participariam do evento e indicar os concorrentes aos prêmios (até 10 indicações para cada uma das cinco categorias). A curadoria também escreve e publica textos, no catálogo e aqui no site da MFL, onde justifica suas indicações. A curadoria também faz a programação do evento, tendo o zelo de exibir filmes indicados e não indicados misturadamente. Em 2007 a MFL teve a curadoria de Christian Caselli, Francisco Serra, Guiwhi Santos e Marcelo Ikeda. Confira abaixo o que cada curador entende por filme livre!


SINERGIA DO FILME LIVRE

“O cinema (norte) americano criou no mundo todo uma ligação de acordo com os interesses do ‘American Way of Life’ e do imperialismo e nós até hoje relutamos em perceber que, através da inocência e da aparência apolítica dos filmes, nossas cabeças foram violentamente colonizadas.”   Zé Celso Martinez Correa

HÁ CERCA DE 6 ANOS, um bando de loucos realizadores independentes de audiovisual no Rio de Janeiro, em parceria com a produtora WSet filmes e com o Centro Cultural Banco do Brasil, criou uma mistura de utopia e intenso trabalho na busca de novas experimentações audiovisuais. essa sinergia foi batizada de mostra do filme livre, que, de 2002 pra cá, apresentou centenas e centenas de experiências de diversas localidades, com uma diversidade estética e temática em variados formatos de cinema, vídeo e outras mídias (im)possíveis.

no que se refere a critérios de seleção, podemos garantir que nós somos uma das poucas mostras de cinema no brasil onde TODOS os filmes inscritos são vistos e avaliados por um coletivo que pensa e realiza uma tentativa de cinema independente, sem preconceitos e sem panelinhas. na contramão de um cinema meramente comercial e de entretenimento, a mostra do filme livre busca um cinema de invenção, de reflexão, e sem frescuras, em meio a um maremoto de pseudonovelas mexicanas de quinta categoria que transbordam as telas brasileiras.   Por CHICO SERRA


O CINEMA É UMA ARTE ESTRANHA

ANTES DE QUERER saber o que é um “filme livre”, existe uma questão ancestral:
Afinal, O QUE É “CINEMA”?
É uma sala comercial que exibe filmes?
Fisicamente, sim; mas e o “cinema” enquanto arte, instituição e matéria prima para a sobrevivência de críticos e produtores?
Seria o conjunto dos filmes realizados até hoje?
Mas qualquer filme é “cinema”?
Seria apenas o conjunto dos filmes que “prestaram”, segundo a opinião dos críticos?
Mas e quando um grupo de críticos discorda da geração anterior?
Seria o audiovisual? (ah, não, pois clips, comerciais e programas de televisão são áudios, visuais e ofensas ao “cinema”)
Seria a película? Mas como fica a questão do digital?
“Cinema” é linguagem? Qual? A “narrativa clássica”? E as opções que – felizmente – fogem disso?
Ou seja, o “cinema” é uma abstração?

Fazer um filme é uma eterna tentativa de se fazer “cinema”?
O Cinema é uma arte estranha. Afinal, trata-se de um objeto impalpável e não-palpável; mas o próprio ato de assistir a um filme já é um bem de consumo. Diferente de um livro, um quadro ou uma escultura, o freguês não leva nada pra casa. Nem quando aluga ou compra um DVD, já que este objeto não é o filme – e sim um disco prateado dentro de uma caixa de plástico. Da sala de cinema, só ganha o bilhete do ingresso – isso quando não o joga fora.

A única coisa que o cliente cinematográfico guarda consigo é a lembrança do que viu. Lembrança esta que, por sinal, não é mais o filme, já que toda memória é sujeita a distorções. O material assistido se transforma numa conexão de vários neurônios em torno de algo que o espectador pensa ser o que, literalmente, pagou para ver.

A maioria dos filmes conta a história de uma pessoa ou de um grupo de pessoas que, diferentemente do espectador, não estão na sala de cinema. A tentativa do cineasta é fazer com que os consumidores de sua obra acreditem que os personagens de fato viveram as situações propostas. Assim, o espectador não só esquece que está numa sala de cinema, como vivencia, de uma forma ou de outra, as situações propostas, observando a tudo e a todos como uma espécie de deus. Mas ele está na sala de cinema. Observando, isto sim, luzes projetadas em uma tela branca e ouvindo um áudio separado das imagens. E os vultos dos “personagens” são atores filmados que se passam por outras pessoas, fingindo viver situações fictícias (N. do A.: atores são seres-humanos idolatrados pela população porque fingem bem ser outras pessoas). Isto sem falar que o cineasta usa cortes, enquadramentos, saltos temporais e efeitos especiais para convencer que sua história está acontecendo. Estes e outros elementos, dizem, compõem o “cinema” que, recapitulando, se transforma na lembrança que alguém acha ser um filme, o qual não passa de uma projeção de luzes numa tela branca, que, na verdade, é um registro filmado e editado de atores simulando serem personagens de uma história que nunca viveram.

Logo se conclui que não há muitas diferenças entre o cinema e uma recordação de algo que se tenha vivido. Exemplo: fisicamente não há diferença alguma entre o que você pensa ser “Cidadão Kane” e a lembrança de quando sua mãe disse: “menino, pára de jogar bola pra comer um pão com mortadela”, em 27 de março de 1986. Ou melhor, a diferença é que você pagou para ver “Cidadão Kane”. Ou seja: para ser um “cineasta”, basta estar vivo.

O sonho é uma conexão de neurônios em torno de várias lembranças.

Ao acordar, lembre-se de seus sonhos, pois eles costumam ser mais “autorais” e “alternativos” que o próprio cinema “autoral” e “alternativo”.

Sonhar não custa nada.       Por CHRISTIAN CASELLI
UM FILME LIVRE

ONTEM, por volta da hora do almoço, me lembrei de que na noite anterior eu havia tido um sonho. Sonhei com uma nuvem branca que se dissipava pelos céus, e que, quando eu já havia me esquecido dela, ela voltava a se recompor. Surgia, de novo, da mesma forma que antes, para subitamente desaparecer, e então novamente aparecer. E assim em diante, sucessivamente. Esse sonho era na verdade sobre o meu olhar. Essa nuvem, objeto do meu sonho, ou ainda, objeto do meu olhar enquanto sonho, na verdade nunca aparecia ou se dissipava por completo. Era o efeito da distância e do tempo entre a retina e o ponto de observação, um efeito da sucessão das camadas atmosféricas ou mero produto de miragem, dos contínuos tons de branco sobre o branco que enganam ou distraem os olhares. Entre essa nuvem e meu olho, havia, enfim, um abismo de coisas, um abismo perpétuo mas ao mesmo tempo indizível. Essa distância era a distância de um pensamento, de um passo, mas que na verdade era um passo na imensidão.

Nesse meu sonho não havia pedaços de concreto, não havia relatórios de gestão, não havia laptops nem contas de fim de mês. Não havia nada a não ser o meu olhar, a nuvem branca e a imensidão. Não havia nada a não ser o próprio sonho e a possibilidade de sonhar. Nada a não ser o meu próprio olhar, a não ser eu mesmo.

Quando me lembrei desse sonho comecei a chorar. As lágrimas inundaram os cômodos da casa, transbordaram até a rua e alagaram as cercanias. Até que elas chegaram até você. Você veio voando por sobre o rio das coisas e me trouxe um lenço, com o qual enxuguei minhas cicatrizes e tudo voltou ao normal. O sol despontou, as ruas secaram, os vizinhos se abraçaram e as pessoas até voltaram a sorrir. Então eu percebi que aquela nuvem branca era você, e não precisei mais sonhar. Pois a nuvem branca estava agora ao meu lado e, mesmo que ela se dissipasse, era preciso acreditar que subitamente ela voltaria a aparecer.

Foi nesse instante em que decidi que não queria mais morrer.      Por MARCELO IKEDA
SE CINEMA É CACHOEIRA, VÍDEO É ARREBENTAÇÃO...

Raras películas que arranham e desbotam, com aquele charme básico, pelos oceanos de químicas e razões nem sempre visíveis aos pelados olhos que também refletem vários paradoxos ambulantes em nosso dia-a-dia de brasileiros. Do tornar audiovisualmente nada em coisa alguma ou em algo que valha a pena haver enquanto imagem e som, seja o simples (e como é bela a simplicidade) registro do mundo como potência eou decadência, seja pelo seu mascaramento através das infinitas realidades paralelas à disposição de olhos, câmeras, HDs, sites, projetores e pessoas criATIVAS.

Antes eram as tintas e papeis e tecidos diferentes, além dos pincéis e lápis e canetas e seja lá que outra forma estivesse à disposição para se fazer um quadro. Via foto o mundo começou a se autoconhecer mais e melhor, coisa que com o cinema muito se diversificou. Um cinema não como formato, bitola, mas como ATO, poder de discurso cada vez mais barato e acessível, esta revolução tecnológica que a quase todos afeta através destas novas formas de fazer sentir o mundo, então já outro, mais matemático que químico, mais bruto que singelo.

Quando coloco um dvd pra assistir, de um filme inscrito na MFL, gosto de pensar que o filme será ótimo, tudo a ver com o evento, que será um prazer passá-lo pra mais gente e quem sabe até indicá-lo pralgum prêmio. Infelizmente na grande maioria das vezes a coisa não engrena. Dos 649 filmes inscritos e assistidos pelos quatro curadores, 167 foram selecionados para os Panoramas Brasil e 32 foram indicados para a premiação, que este ano supera os cento e trinta mil reais. Ou seja, apenas 26% e 5% dos inscritos foram selecionados e indicados, respectivamente. Isso indica que muita gente inscreve seu filme na MFL sem saber o que somos e o que queremos ser com os filmes que exibimos e que, no fundo, são a graça, a diferença e, então, a alma do evento, sem a qual ele estaria condenado a um precoce e merecido fim. Mas o conceito de MFL vive cada vez com mais saúde, num fiel reflexo do que se tem feito pelas ruas, becos, casas e escolas da vida.    Por GUIWHI SANTOS

Confira aqui mais textos das curadorias das MFLs passadas.




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