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Indicados ao pr�mio OFICINANDO na MFL 2008

O prêmio Oficinando, que a MFL oferece às produções realizadas em escolas e oficinas de cinema/vídeo tem sido um dos mais instigantes e competitivos, com filmes que esbanjam criatividade e qualidades variadas que por vezes até faltam em filmes profissionais. É com MUITO prazer que em 2008 11 filmes foram indicados ao prêmio. Seguem abaixo os filmes indicados e seus respectivos textos originalmente escritos pela curadoria da MFL. Além do troféu Filme Livre!, o destaque a ser premiado pelo júri oficial vai receber serviços audiovisuais das empresas que apóiam a premiação da MFL. Em breve a relação completa do que o premiado ganhará.

Aproveitem o mar
SC, 2006, 9’, dVd. de Christian Abes.
Um seqüestro, a princípio sem razão, coloca os personagens desse filme dentro da mala de um carro. Ao invés de se entregarem ao desespero usual que uma situação como essa provocaria, os dois passam a falar de suas vidas e acabam por descobrir que têm em comum, dentre outras coisas, o fato de nunca terem visto o mar. Ela, por razões óbvias. Ele, de certa forma, também. A naturalidade com que a narrativa se desenrola é bastante impressionante, assim como o trabalho dos atores. (Poliana Paiva)

Pueril
SP, 2007, 12’, dVd. de Jean Pierre Dominguês e Fernando Faria Freitas.
Diversas crianças, num orfanato ou uma creche, não sabemos ao certo, brincam, pintam, assistem a teatro de bonecos, dormem juntos, inventando um outro universo, muito mais interessante e complexo do que o dos adultos. Dois momentos do filme distanciam o mero aspecto documental: um interlúdio onírico, com bonecos de pelúcia animados em stop motion, e o grande plano geral do final do filme, reduzindo o prédio da creche numa espécie de miniatura no meio da grande São Paulo, sufocada entre os fios elétricos e os edifícios descoloridos, nos fazendo pensar em que momento da vida nós perdemos a inocência.(Chico Serra)

Conversa Paralela
RJ, 2006, 14’, dVd. de Cinema Nosso.
Um filme animal!
Os reflexos do sol na água lembram as tantas possibilidades de se estar no mundo como um ponto, um ponto de vista, no caso, a perambularao acaso de uma pracinha, onde esbarra a seu modo em diferentes reflexos de gente, papos, risos, brigas e carinhos como raramente se vê num plano seqüência em “primeira pessoa”. Assim, vamos que vamos como se fossemos um cérebro até racional, mas motivado por interesses não humanos. Simples e complexo, por conta dos diversos personagens (nem todos bem no filme) e seus dramas afinados com o tempo da câmera “ser”, ilusão que a faz não uma máquina sem pulso ou coração, muito pelo contrário. Corajoso por se assumir assim, cumpre super bem seu misterioso papel de habitar pelos acasos da vida. (Guiwhi Santos)

Sem mais delongas
RS, 2006, 22’, dVd. de Frederico Ruas.
Todos os artistas vivem um momento único nos dias de hoje, que é a inserção da tecnologia digital nos seus modus operandi, e já há um tempo critico principalmente cineastas que se inspiram explicitamente nos movimentos brasileiros dos anos 60, a saber o Cinema Novo e o Cinema Marginal. A meu ver, estamos diante de uma gama de novidades que podemos ainda mais a fundo em renovações estéticas,filosóficas etc. Este puxão de orelha poderia ir diretamente para “Sem mais delongas”, se não fosse a mão extremamente segura de seurealizador, Frederico Ruas. Com citações explícitas ao “Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, sobretudo na cena de dentro do cinema, ele consegue criar estranheza logo nos primeiros segundos de projeção ao se valer de uma dublagem notoriamente fake dos personagens. O clima de pesadelo em P/B segue com as auguras do personagem principal, que corre atrás de algo que nem mesmo ele sabe o que é, imagina então os espectadores. E tudo vai, com muitas delongas, numa doença permanente até a um final bizarro. Ou seja, se Sganzerla, Glauber e seus asseclas tiverem que deixar herdeiros, que sejam deste quilate.(Christian Caselli)

Pelo ralo
RJ, 2007, 14’, dVd. de Carla Dutra.
A paranóia urbana que atinge as zonas mais privilegiadas da cidade do Rio de Janeiro é o mote para que “Pelo Ralo” sustente uma narrativa que em nenhum momento nos deixa descolar os olhos da tela. Os personagens construídos têm importância vital no clima claustrofóbico que se estabelece, por revelarem a alienação na qual se encontram de forma sutil e não-preconceituosa, coisa rara em um filme que trabalha com a tipificação de forma tão incisiva. A partir da metade da narrativa, “Pelo Ralo” nos indica o que acontecerá nofinal. Apesar disso, continuamos envolvidos, saboreando gota por gota. (Poliana Paiva)

Moradores do 304
MG, 2007, 14’, dVd. de Leonardo Cata Preta.
Este resultado de monografia de Leonardo Catapreta é simplesmente uma das melhores animações brasileiras de 2007. Trata-se de uma adaptação livre do poema “Elegia 1938”, de Carlos Drummond de Andrade, feita pelo cineasta e animador ao concluir o curso de Letras. Mas sua história e estória são o que menos importa, pois os delírios gráficos remetendo a um angustiado (ou não) processo de criação do protagonista – aliás, vivido pelo próprio cineasta – acabam virando, metalinguisticamente, uma reflexão sobre a própria feitura deste curta. Assim, com as mais variadas técnicas de animação, é o público quem agradece o resultado desta própria criação. Quem dera que toda tese resultasse em obras tal fodas e acessíveis a um público maior quanto esta, ao invés de serem lidas por 2 ou 3 professores de uma banda examinadora. (Christian Caselli)

O labirinto

RJ, 2007, 13’, 16mm. de Gleysson Spadetti.
Esta é um das mais recentes produções da UFF e a indicação vai pelo pulso forte de Gleysson Spadetti em compor uma obra inquietante e de clima sombrio – o que é cada vez menos feito nestes tempos de filmes universitários tristonhos... Através de uma estranha história cíclica e, por que não?, labiríntica, vemos as desventuras de uma mulher perseguida por um admirador obsessivo. Ou algo assim. A história é desconstruída, embora exista uma coerência interna, o que torna o curta devidamente orgânico e “prendedor” de atenção. Influências de David Lynch? Não importa. Se há, foi bem filtrada e apre(e)ndida. (Christian Caselli)

Pare, olhe, escute
RJ, 2006, 13’, dVd. de Carlos Augusto e Zé.
Quantas imagens, quantas sensações, uma imagem evoca ? O documentário “Pare, Olhe, Escute” é uma busca por signos e sentimentos, evocados por algumas imagens, pintadas nas ruas dos subúrbios da cidade. O apresentador do filme, Zé, também um de seus diretores, ao entrevistar os passantes, não se permite apenas perguntar se as pessoas querem falar a respeito da arte encravada nos muros da cidade, ele quer buscar um sentimento verdadeiro. Ele afirma odo o tempo o que está sentindo. Numa seqüência, quando entrevista um senhor que vê nas imagens a representação de um trabalhador rural, ele fala para a câmera (para o público ou para o operador da câmera, que é provavelmente um companheiro de vida de rua), que não chora há muito tempo, aproveitando por agradecer a equipe por aquela experiência. A imagem que ele viu, as lágrimas no olho do senhor que acaba de ser entrevistado, é o sentimento verdadeiro que ele busca, usando a arte da rua como uma metáfora para um sentimento real e espontâneo, que pode ser criado pela arte. Mesmo que possa parecer num primeiro olhar um repórter ingênuo, com uma abordagem displicente, o que Zé está buscando (não é possível saber através do documentário se é uma busca consciente ou não) é por um sentimento verdadeiro através da arte da rua. Esta sutileza torna o trabalho muito mais doque uma reflexão sobre história da arte ou a função da arte, o grafite de rua e sua significação para quem o vê, e acaba se tornando um documentário sobre seu próprio realizador, sobre seu inconsciente, sua sensibilidade e visão de mundo. (Chico Serra)

Eisenstein
PE, 2006, 19’, Mini-dV/35mm. de Leonardo Lacca, Raul Luna e Tião.
O argumento de “eisenstein”, o curtametragem, já é por si só um motivo por sua indicação: um novato cineasta pernambucano procura por Sergei Eisenstein para auxiliá-lo na montagem de um improvável “Encouraçado Potenkim Redux”. Surrealismo dialético. A preocupação pela pronúncia da língua russa e o uso da música clássica, em quase todo o filme, causa um estranhamento muito maior do que a aproximação ao tema, tão caro a todo estudante de cinema e cinéfilos em geral. A idéia de gênio se transforma em paródia. As fórmulas da ultraestética da montagem são apenas sugeridas, recriadas sob a luz de uma nova possibilidade (a arte digital). (Chico Serra)

A lenda da fundação
RJ, 2005, 7’, dVd. de Diana Iliescu.
Um suposto incêndio no cinema Odeon é o ponto de partida para essa deliciosa metalinguagem. “A Lenda da Fundação” é um filme de arquivo que não dá um valor extremado à própria pesquisa (apesar dessa ser bem coerente com o discurso construído) e que, por isso, se destaca. As falas em off têm um sarcasmo mais que necessário a um cinema que não se leva tão a sério e que, exatamente por isso, sabe se fazer ouvir. (Poliana Paiva)

Táxi para o devaneio
SP, 2007, 12’, 35mm. de Ansgar Ahlers, Dirk Manthey e Eder Augusto.
Quando o nome diz tanto.
Fruto da parceria entre as Oficinas Kinoforum de Realização Audiovisual com o projeto alemão Exchange Daydreams, este surreal curta foi rodado parte em São Paulo, parte em Kiel, na Alemanha. Interessante sacar a forma como tais diferenças de visuais e sotaques são exploradas no filme que, em tese, é super simples, se resumindo a duas corridas (de táxi), com a trama do filme acontecendo basicamente dentro do carro. As personagens dialogam e se espantam com o que acontece num ambiente tão pequeno, porém tão grande, tão sem limites, fronteiras. No filme, e pela magia do cinema, é possível estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, sem que seja preciso maiores explicações lógicas; afinal, há mais coisas entre o céu e a terra do que qualquer vã explicação. Se cinema fosse apenas ciência, este seria um filme, digamos, milagrento. Como não é, se torna “apenas” um ótimo filme, que ao mesmo tempo diverte o público e brinca audiovisualmente com o mundo e, principalmente, com o fazer cinema. (Guiwhi Santos)








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