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Indicados ao pr�mio Car�ssima Liberdade na MFL2008

O prêmio Caríssima Liberdade é focado nos filmes feitos com apoio estatal direto que tenham uma linguagem diferenciada. Dos 691 inscritos apenas 54 tinham apoio estatal e, destes, 27 foram selecionados, o que indica que, cada vez mais, filmes com incentivos estão buscando sair do lugar comum narrativo. A audiovisual brasileiro agradece!

Os filmes indicados a este prêmio concorrem ao troféu Filme Livre!, a ser entregue no dia 8 de março,  na sala de cinema do CCBB-RJ, no encerramento da MFL.

Abaixo seguem as indicações com seus respectivos textos escritos pelos curadores da MFL 2008.

A caminho das Índias
Ba, 1981, 84’, 16mm/35mm. de Augusto Sevá e Isa Castro.
A cena em que a professora da escola de Trancoso (comunidade do litoral da Bahia) ensina uma pífia aula de História do Brasil, e é interrompida pelo ator Cacá Rosset perguntando aos alunos “vocês sabem o que é um degradado?” é uma boa síntese do que é este filme de Augusto Seva: uma narrativa que nega os esquemas tradicionais, não sendo nem ficção, nem documentário, muito menos reconstituição histórica. Uma informação importante: o longa é uma co-produção da Embrafilme, e foi filmado entre 1977 e 1979. O filme desvenda em detalhes o trabalho, as festas, a mata, o canto dos pássaros, e principalmente os costumes e valores daquela gente. Um filme dentro do filme. Uma paródia sobre a história do Brasil. Uma aquarela do Brasil. Zé Celso interpreta um degredado que literalmente defeca nas areias baianas do Brasil. (Chico Serra)

Andarilho
MG, 2007, 80’, 35mm. de Cao Guimarães.
A loucura é uma estrada? Estrada como espaço épico, surreal, de transição espacial terráquea ou interplanetária. A estrada como caminho de inquietação. O personagem andarilho do documentário não sabe bem o que é ele, mas se abre para a câmera para filosofar sobre a existência de Deus e dos espíritos, o excesso de brutalidade na terra e a esperança restante. O diálogo que resulta do encontro entre dois andarilhos de estradas do nordeste de Minas Gerais está entre uma das melhores cenas do documentário brasileiro recente. Um diálogometafísico que vai de Deus a discos voadores, passando por formigas, cachorros e galinhas... O que impressiona em Andarilho é a ausência de porquês... Simplesmente a estrada como motivo. Um caminho de experimentação audiovisual que perpassa a documentação, a antropologia, a filosofia ou a sociologia, para tentar alcançar um expressionismo documental, na fronteira entre a loucura e a lucidez. (Chico Serra)

Capistrano no quilo
CE, 2007, 21’, dVd. de Firmino Holanda.
Recentemente, algo de novo chamou a atenção no Festival de Tiradentes (MG): uma presença maciça de obras de novos diretores cearenses. A qualidade de todos era inegável, porém outra característica marcante foi um certo clima pesadão da maioria. Mas, felizmente, veio para este “Capistrano no Quilo”, de Firmino Holanda, para dar um jato de anarquia neste clima nordestino-sueco. Trata-se de um fato peculiar ocorrido em sua Fortaleza: o desaparecimento da estátua do escritor Capistrano de Abreu de uma praça. Através deste fato, Firmino constrói uma narrativa bem humorada, mas que se estilhaça  em mil e uma discussões, como a miséria do povo e a memória brasileira. Afinal, quem foi Capistrano de Abreu? Embora poucos lembrem, foi um memorialista cearense... E o que aconteceu com a estátua? Qual o destino do bronze derretido? Misturando imagens de arquivo, entrevistas, etc, o filme prova, de uma forma ou de outra, que o tal metal precioso mais uma vez escorreu pelo ralo, assim como a História Brasileira. (Christian Caselli)

Rapsódia do absurdo

Go, 2006, 15’, dVd. de Cláudia Nunes.
Denúncia poética
Muitos filmes são feitos sobre este tema que é um dos maiores problemas brasileiros, os sem-terra. A maioria deles fazem o comum, mostram imagens e conversam com as pessoas sobre a situação, alguns mostram vários lados, várias opiniões, discursos certos e errados de todas as partes, os que não têm onde viver, os que têm terras ociosas e o Estado nacional no meio de campo, obedecendo a tal lei que, no Brasil, desde sempre, está do lado de quem possui, no mínimo, uma casa pra chamar de lar.  Os miseráveis que sigam em sua invisibilidade social e na falta completa de perspectivas até de curto prazo. Tantas contradições e alguns paradoxos sobre tantos absurdos respaldados nas leis poderiam virar apenas mais um filme careta sobre o tema. Ao contrário disso, se quis a poesia pela composição de sons e imagens que dizem demais e por muito mais tempo, mensagem pra todos, vinda diretamente dos que são oprimidos por leis não focadas na verdade dos fatos mas em seus próprios dogmas assassinos. (Guiwhi Santos)

Ainda Orangotangos
RS, 2007, 81’, 35mm. de Gustavo Spolidoro.
Um grande plano!
Desde quando fazia vários curtas por ano, em super8, video e 16mm, Gustavo Spolidoro já se mostrava um entusiasta pelo plano-seqüência. Pra quem não sabe, um “plano-seqüência” no cinema é aquele que não tem cortes, onde a ação acontece continuamente, com a câmera filmando direto. Muitos usam tal recurso dentro de sua narrativa, mas é muito difícil uma ficção ser inteiramente feita assim, sem cortes, também por isso o filme se auto-proclama o primeiro longa feito desta forma no Brasil. Por que um plano-seqüência de 80 minutos é algo difícil de ser feito? Basta pensar que se, aos 75’, algum imprevisto acontece é preciso começar toda a cena novamente, ou seja, tudo tem que ser tremendamente ensaiado e cronometrado, pra que aconteça sem falhas na hora da ação. Além deste longo desafio, havia também o de se adaptar para as telas o livro de contos de Paulo Scott. O resultado é um dos filmes brasileiros mais importantes dos últimos anos, se não em termos de bilheteria (apenas passou em festivais), com certezas em termos de ousadia técnica e de linguagem. O filme freqüenta fragmentos de algumas vidas e mortes e suas múltiplas possibilidades de haver ao acaso. Uma ópera trágica ao som de variados tipos de sotaques, através também de diversas referências ao cinema em geral (de Woody Allen a David Lynch) e ao praticado pelo próprio realizador quando fez alguns dos curtas mais premiados do Brasil. Estilo próprio em seqüência, lembrando e flertando entre o surrealismo esporádico e dramas cômicos, este primeiro longa do diretor aponta que nem só historinhas bem amarradinhas e com finais felizes ganham os editais dos governos, sendo um lindo exemplo de filme incentivado que não se contenta em apenas entreter, mas em potencializar o próprio fazer audiovisual. (Guiwhi Santos)

Sábado à noite
CE, 2007, 62, Mini-dV/35mm. de Ivo Lopes Araújo.
Vagando nas penumbras
Uma das prerrogativas de um documentário é ser fiel à realidade, mostrando o que de fato acontece, um registro sem rodeios ficcionais, sem representações. Mas, e quando a realidade mostra do filme livre 2008 | 25 é tediosa e quase nada acontece? Assim é o filme de Ivo Lopes Araújo, diretor cearense premiado na mfl em 2004 com seu curta “Uma Folha que Cai”. Sem máscaras, a busca aqui é justamente mostrar que os sábados de noite podem simplesmente ser uma noite qualquer, sem nenhum atrativo a mais, ou melhor, com todos os atrativos que uma noite qualquer carrega. Este foco, desprezado pela maioria dos filmes, é o protagonista deste; o tempo e suas ocupações, seus sons e pormenores muitas vezes só notados quando mostrados não por segundos, mas por minutos. Financiado pelo projeto estatal Doctv, é um belo exemplo do que se tem feito hoje em termos de linguagem audiovisual documental; ao invés de microfones, offs, perguntas e respostas que tentam decifrar as coisas, simplesmente a câmera percorre caminhos simples e improváveis, e assim vamos sem pressa até o domingo acordar. (Guiwhi Santos)

Confira tais filmes na programação da MFL, no CCBB-RJ de 19-02 a 09-03.








Mostra do Filme Livre 2011
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