Confira entrevista com a Plus Ultra

Em janeiro Christian Caselli e Poliana Paiva entrevistaram em vídeo a dupla de realizadores e sócios da Plus Ultra, Leonardo e Gustavo Duarte (foto ao lado, com o troféu Filme Livre!).  A entrevista esta publicada no Catálogo da MFL e agora também no site. Confira abaixo e conheça mais e porque a Plus Ultra ganhou na MFL uma retrospectiva completa de seus 35 filmes.

MFL: quando tudo começou?
Gustavo: Eu me formei em design e fui fazer uma especialização fora. Quando voltei, meu irmão estava fazendo vídeos com Nilson (Primitivo) Gonzáles na produtora Moby Dick. E como rolou esse movimento, fiquei apaixonado pelo vídeo também. Aí começamos a fazer coisas juntos, bem despretensioso e tal. Até que hoje trabalho com videoarte, vídeo-instalação, mas é uma outra história. Logo depois a Moby Dick fechou e você ficou com a mesa de edição, não é isso?

Léo: É, a gente fechou e o Nilson ficou com o equipamento. Um ano depois montamos uma ilha de edição não-linear, uma das primeiras nesse esquema de pc. Isso em 1998. A gente mandou vir uma placa de vídeo de Miami, só ela custou US$3.100, que hoje você compra por R$ 200. Montamos a estrutura nessa época em que era super-difícil comprar equipamento, que foi todo muamba braba de navio, sem nota fiscal, sem garantia. Sei lá como os caras traziam. Compramos também uma câmera Canon xl1, uma das primeiras a entrar no Brasil. Acho que foi a segunda, pelo que eu sei. Sempre tivemos essa disposição investir na linguagem, no que a gente gosta e acredita. E se passaram 10 anos dessa história, mas acho que, comercialmente, a Plus Ultra não deu  certo. Não foi uma questão de conseguir viver disso e pagar nossas contas. A gente entendeu que tinha que ter outras atividades para poder subsidiar a nossa atividade principal: fazer filmes, videoclipe... E a gente faz trabalhos de outras pessoas, apoiando, editando. Apesar de eu e o Gustavo centralizarmos as ações, a Plus Ultra engloba um grande número de pessoas. Toda uma geração trabalha/trabalhou com a gente, o que tornou possível estarmos aí com 10 anos, lançando um box de 5 dvds.

Gustavo: A gente transita por diversas áreas do audiovisual: documentário, vídeoexperimental, videoclipe, filme 16 mm, curtametragem... Agora estamos finalizando nosso longa-metragem “América do Sol”, filmado em 2000. Conseguimos um telecine maravilhoso enTReViSTa pluS ulTrA 48 | centro cultural banco do brasil na Link Digital (através do Bernardo Brik, um dos sócios fundadores da Plus Ultra), para em breve lançar em digital e botá-lo para rodar. Lançar em dvd mesmo. Hoje em dia você lançar um filme em 35 mm é praticamente inviável, a não ser que tenha a Petrobrás, a Eletrobrás; esses esquemas de lei de incentivo e tal; o que eu acho bastante complicado... O importante, definitivamente, não está na bitola, mas sim o conteúdo/o que ele representa/ o que ele é enquanto obra.

MFL: então o léo já trabalhava com vídeo. fala um pouco disso.

Léo: Comecei a filmar casamentos em 1995, fazendo assistência de câmera e editando. Virei muita noite editando em linear, com fitas de Super-V, uma mesa de corte e de caracteres. Foi daí que tive contado com a linguagem e notei que gostava muito daquilo, de certa forma. Já naquela época era diferente das pessoas quanto a posicionamento da câmera, mais câmera na mão, filmando plano e contraplano, plongé e contra-plongé, close e plano geral; uma câmera que decupa mais os lugares. Sempre tive essa característica. A partir daí, montamos a Moby Dick em 1996, comprando dois vídeos cassetes Super-V e uma mesinha de corte de 4 canais. E ficamos um ano fazendo experiências. Fizemos vários filmes legais. Um deles é o “Grande Pierrot”, que passou no Cachaça.

Gustavo: A gente sempre buscou essa coisa mais descompromissada do vídeo. A possibilidade de filmar 2, 3, 4 horas de material sobre determinado assunto ou tema interessante. E aí na ilha de edição construir uma linguagem, descobrir o que as imagens estão te revelando. Acho que o trabalho da Plus Ultra vai muito por aí e que a maioria dos nossos filmes se destacaram tem essa característica. As imagens contribuem muito. Encontrar uma linguagem, uma montagem, uma cor, uma trilha sonora, os personagens, pode surgir dali coisas interessantes.

MFL: E o que faz vocês filmarem? por qual motivo vocês começam a filmar?

Léo: Nesse exemplo do “Grande Pierrot” era uma coisa que nem fazemos mais. Pegava a câmera e saía. Nesse dia, fomos falando: “vamos para aquela sinuca legal, antiga”, e encontramos o personagem do filme totalmente por acaso. Não saímos de casa falando: “vamos fazer um filme sobre o cara na sinuca”. Foi uma coisa que rolou.

MFL: “Caximbau” também foi um pouco assim?

Léo : Também. Estávamos com dois primos nossos no carro. Pegamos a câmera para zoar. Aí meu primo falou: “olha, tem um amigo meu que
atrás da casa dele tem um navio abandonado”. Fomos lá e tinha todas aquelas pessoas, aquela vida dentro do navio. Ficamos surpresos e filmamos um pouco, interagindo com eles e tal, mas acabou a bateria. Perguntamos se no fim de semana seguinte eles iriam lá e combinamos  de fazer mais imagens. No segundo dia de filmagem, levamos umas roupas, umas maquiagens. Demos uma interferida porque já foi algo mais direcionado. Foi um gancho também para convencê-los a voltar: “se vocês vierem, a gente traz roupas...”

MFL: vocês falaram dessa coisamúltipla, de transitar por vários gêneros. falem mais sobre isso. O “caximbau” tem uma coisa de documentário, mas vocês interviram. como é a criação? vocês pensam no gênero ou a coisa vai surgindo?

Léo: No caso desses filmes, rolou assim. Mas tiveram outros mais profissionais, tipo, o “Fawcett” teve roteiro, produtor executivo, tudo certinho. Mas se você faz/trabalha com vídeo, é legal estar com a câmera sempre. Porque a qualquer momento pode topar com uma situação ou pessoa que podem se tornar um grande vídeo. Por exemplo, no “Caximbau”, o que é interessante é que se não tivéssemos ido lá com a câmera, não teríamos descoberto aquilo; ninguém ia saber que estava acontecendo ali. Era o lugar de lazer daquelas pessoas, que eles iam para lá, era como se fosse um clube; era coisa inusitada.

MFL: Mas não é meio complicado andar com câmera no brasil?

Léo : No nosso caso, captamos com uma vhs emprestada. A gente tem muito isso também, de chegar e já falar com todo mundo e tal. Demos a câmera na mão deles e eles filmaram, que é a hora em que as imagens ficam todas tremidas. É uma questão também de não se colocar numa postura “estou filmando vocês, estou num zoológico”, ou algo assim. É chegar como pessoas mesmo. Mas o que você está colocando é complicado, “sair com uma câmera e tal”.

MFL: até por motivos éticos também. como é que vocês trabalham isso? estou vendo que vocês têm uma coisa de interação com os personagens.

Gustavo: É o grande lance é esse: a curiosidade, a vontade da pessoa ser filmada. A magia da câmera. Aqui no Rio tem muito desse negócio da Rede Globo. Aí é tem que esclarecer: “não tem nada a ver com a Globo”, “não, não vai passar no Jornal Nacional”... Léo: Mas essa questão do gênero que você está falando... A gente tem esse lado documental muito forte; de pegar, filmar e descobrir coisas espontâneas que vão surgindo. E tem a coisa de trabalhar na ilha. O “Caximbau” tem gente que acha que é ficção e que acha que é documentário. Uma vez projetei no MAM numa aula do Hernani (Heffner) e foi uma super-polêmica. Os alunos acharam uma ficção e o Hernani um documentário clássico. Eu acho um pouco dos dois. Ao mesmo é factual, simplesmente pegamos a câmera e filmamos sem produção aqueles meninos no navio abandonado. Ou seja, algo que existe; as pessoas freqüentavam aquela região. Mas quando as imagens foram para ilha, alteramos a cor, escolhemos imagens que íamos ou não usar, botamos trilha sonora... Então você construiu uma outra dinâmica para aquele fato. Virou um “documentário-ficção”.

Gustavo: Essa discussão “é documentário” ou “não é documentário” é uma coisa acadêmica. Não estou interessado nisso. Eu tenho uma visão particular: acho que até novela é documentário, porque a partir do momento que se está com uma câmera, você interfere na situação. A pessoa na frente na câmera já se coloca de uma maneira diferente.

MFL: o cara quando está de frente para a câmera ele está atuando de alguma forma.

Gustavo: A Plus Ultra é uma produtora livre. Nunca tivemos essa preocupação. Acho bem apropriado essa questão de mfl e a gente estar participando dessa forma, porque nossos filmes são bem livres. Até os filmes mais caretas que a gente já fez (o “Fawcett”, por exemplo) a
própria dinâmica foge um pouco da linguagem mais tradicional.

Léo: Então é isso. A Plus Ultra está aí, tá viva. Se Deus quiser, “América Sol” vai ficar pronto. E ainda tem outros dois curtas, “Justiceiros” e “Artista da Fome”, co-produzidos com a Universidade Federal Fluminense (uff), através 50 | centro cultural banco do brasil do Instituto de Arte e Comunicação Social (iacs). São filmes de cinema, produzidos em 16mm, com negativos vencidos. O importante é terminar esse ciclo para depois começar outros.

MFL: como é que você pensa isso: “filme de cinema” e “filme de vídeo”?

Léo: O cinema foi uma descoberta. Foi muito doido, porque quando estava montando a Plus Ultra em 98/99, num processo de quase 10 meses, fui convidado a trabalhar no filme “São Jerônimo”, de Júlio Bressane, como assistente de direção. Na verdade, eu me convidei. E ali, descobri o que era o cinema e como se fazia, como nunca antes na minha vida. Todas as etapas. Vi o Júlio trabalhando no roteiro, na pré-produção, na produção até as filmagens. Enfim, todo processo de finalização. A partir dessa descoberta/revelação, entramos numa de fazer de cinema. O que foi numa época muito apropriada, em que o departamento de Cinema da uff abria portas em sistema de co-produção. Uma época muito fértil, com vários filmes legais e premiados. Uma época explosiva.

MFL: uma co-produção no sentido amplo. de todo mundo trabalhando no filme de todo mundo. vários filmes saíram na mesma época.

Léo: O “América do Sol” e o “Conceição” foram feitos mais ou menos por aí. São filmes irmãos. E ninguém estava ali usurpando do patrimônio público, ou se dando bem na aba na uff. Porque era uma troca. Já finalizei mil filmes da uff na Plus Ultra. Já fui ajudando, não a uff especificadamente, mas alunos e professores. Tinha esse clima e esses filmesrepresentam uma geração que pegava a câmera mesmo e ia para rua fazer cinema. Foi uma época de ouro mesmo e aproveitamos essa onda, quando filmamos o “América do Sol”, em 2000. Em 2001 fizemos “O Engraxate”, 16 mm, que foi premiado em Brasília, em Porto Alegre e lá em Niterói, no festival da prefeitura lá. Na seqüência, tem em 2002 “O Justiceiro” e “Artista da Fome”, que não estão finalizados. E partir daí, nessa época, mudou a diretoria do departamento de cinema da uff e a história da co-produção acabou. Então estes curtas estão nesse buraco negro, presos nessa questão política. É uma questão interna da universidade. Foi uma época que passou e por é acho importante esses filmes ficarem prontos.

MFL: vou retornar sobre esse negócio de cinema, de vídeo. como é que vocês estão localizados?

Léo: A gente nunca teve muito isso. O engraçado, por exemplo, é que o “Caximbau” foi um filme filmado em vhs e as imagens foram digitalizadas. Nesse processo, alterei ali o contraste – minha placa de vídeo antiga podia fazer isso na hora de capturar. E muita gente já veio me perguntar se “O Caximbau” era 16mm. É engraçado porque algo filmado em vhs, que é um formato ridículo que todo mundo tinha, uma coisa doméstica, e as pessoas de cinema vir me perguntar se era 16mm.

Gustavo: Mas você teve uma época bem fascinado pela película.

Léo: Tive. Eu acho que a película fascina mesmo.

Gustavo: Eu sempre fui dessa pilha de vídeo mesmo. Porque não tem essa coisa “ah é película”, “ah, é vídeo, caralho que seja”. O que interessa é a imagem lá. Hoje em dia tem festival de pocket filmes, filme de celular. Até porque fica bem legal quando você coloca isso na tela grande. Acho interessante, o pixel, essa coisa de quando vai ampliando. Eu nunca precisei amadurecer nesse sentido. É muito legal cinema, mas eu gosto da imagem do vídeo,  aquela coisa mais lavada.

MFL: a bitola ajuda no fechamento de um conceito?

Gustavo: Sim, principalmente quando você mistura tudo. “América do Sol”, no caso, é 8mm/16mm/digital e de repente um vhs também. Então, o que esse filme é?

Léo: O filme que a gente mostrou ano passado na mfl, “Independência ou Morte”, tem imagem captada com mini-dv, com câmera digital fotográfica, em 16mm, e coisas captadas da televisão no vhs. E o filme, por incrível que pareça, consegue homogeneizar. O que linka essas bitolas é a linguagem.

Gustavo: E tem também a coisa de trabalhar a imagem. Você chega no computador e tem várias possibilidades. E isso é uma coisa que a gente faz. Todos os formatos são válidos. Pegar tudo isso e fazer com que fique com uma estética homogeneizada.

MFL: dentro do conceito que vocês querem para um projeto específico?

Gustavo: Exatamente, por exemplo, em “América do Sol” filmar em película, mas ele não necessariamente será totalmente em película. Vai ter digital, imagem escaneada e trabalhada no After Effecs. Essa coisa da bitola sempre foi mais uma questão de orçamento do que de vontade, entendeu? A gente fez muito filme com o que tinha na mão, com o que podia fazer. Tanto é que vai do VHS ao 16mm numa boa.

Léo: Nunca filmou em 35mm, mas a gente tem essa coisa: quando estava finalizando o “Independência ou Morte” em São Paulo, queria tirar umas imagens e tinha uma câmera fotográfica Sony. Então fui lá e filmei com ela. Não tive problemas. A gente gosta de audiovisual; de trabalhar com isso. Fazer vídeo arte, vídeo experimental. Buscar novas  possibilidades. mfl: vocês acham que existe um hiperrespeito do que é “cinema”? porque vira e mexe tem essa coisa: “ah isso é cinema”, “isso não é cinema”...

Gustavo: Tem um ranço totalmente nesse sentido. Tem muita gente que sai da faculdade, com 20, 22 anos, com essa idéia do que é “cinema”. Não faz sentido você ter uma idéia fechada, principalmente hoje em dia, que já rolou milhões de coisas.

MFL: sobre qualquer coisa.

Gustavo: É, sobre qualquer coisa, mas, no caso, falando sobre cinema, o problema é se fechar:  “o cinema tem que ser feito dessa maneira e tal”.

MFL: e a diferença entre cinema e vídeo? como isso anda?

Plus Ultra: Nosso primeiro festival que foi em Curitiba. O pessoal do vídeo ficava num hotel ruinzinho; o pessoal do cinema ficava num hotel maneiro. E com o passar dos anos, isso não existe mais, fica todo mundo no mesmo lugar, os filmes exibidos nas mesmas sessões. As pessoas mais tradicionais começaram a perceber que era inviável e totalmente ditador fechar nessa história de que “o festival só vai passar filme de película”, ou então “curtas só de película; vídeo só experimental, mas vídeo não ganha prêmio”. Hoje em dia não tem essa e passa tudo junto, geral. Pelo menos 90% dos festivais com que eu tenho contato.

MFL: hoje em dia acontece uma coisa interessante: o filme de 16mm passa por uma situação de degeneração por causa de projeção ruim, que era melhor ter passado em dvd. hoje muitos festivais que passavam 16mm não têm mais, só tem 35mm e vídeo. Está acontecendo o que houve com o vídeo.

Gustavo: Finalizar um curta hoje em dia em 16mm é ridículo, é gastar dinheiro à toa. E os projetores são antigos. Na época do “América do Sol” foi essa discussão: achava inviável porque era caro. Naquela época, há 10 aos atrás, falava “vamos fazer em vídeo e depois passa para 35mm”, porque isso fazia sentido. Mas hoje você coloca em um hd, pois o dvd comprime. Os cinemas estão acabando com os projetores em 35 mm e daqui a pouco não vai ter mais.

MFL: e internet e essas coisas? sei que o léo ver com simpatia...

Léo: A gente ama o Youtube. A gente colocou “Exu”, curta nosso de 1’, e teve mais de 40 mil acessos. E foi um filme que não entrou no Festival do Minuto. O Youtube é o futuro da distribuição, exibição, transmissão, troca de idéias, troca de arquivo. É a possibilidade de seu trabalho ser visto por muito mais pessoas. Porque os curtas vão passar aonde?! Nos festivais que você conseguir se inscrever e que te aceitam, ou no Canal Brasil, se rolar Canal Brasil. Então é uma janela. Se fazer e colocar na  gaveta, então para que você está fazendo?!

MFL: o problema é ainda maior quando os curtas são caros para cacete; usando dinheiro do estado.

Léo: Exatamente. Não só os curtas, mas longas também. Hoje em dia tudo é com o dinheiro do Estado. Incentivado através de lei, que na verdade é dinheiro público; o que seria imposto e vira investimento em cultura. Acho que a lei de incentivo tem um lado positivo, porque as pessoas estão fazendo cinema, mas tem um lado perverso, porque não gera mercado. O filme termina e já ta pago. Todo mundo já ganhou dinheiro. Não há mais a figura do produtor que quer que o filme seja exibido para recuperar o investimento. Quem pagou fomos nós, o Estado, o povo brasileiro. Assim, criou-se uma elite que se apropria e se aproveita disso, pois tem acesso aos departamentos de marketing. Por outro lado, deixou uma legião de pessoas sem possibilidade de produzir. E para você aprovar um projeto a lei é complicadíssimo, super burocrático, preencher todas aquelas fichas e papeladas. Aí você consegue aprovar seu filme no MINC, mas tem que ter uma produtora, seja sua ou uma associada. È a segunda via-crúcis: abrir uma empresa pagando 18% de imposto, ou ver se tem alguém legal que queira colocar a produtora no seu projeto. Daí, a terceira via-crúcis: conseguir o dinheiro nas empresas, nas estatais, departamento de marketing, nessas salas obscuras. Então, assim, muita gente consegue até duas etapas, mas terceira... Pelo menos, todas as pessoas que conheço que têm projeto não conseguem captar. Acho difícil que todos esses projetos sejam ruins. mfl: hoje em dia essa não é a única opção. você são a prova.

Léo: É muito complicado. Não participamos de um mercado audiovisual, nunca vendemos um filme no Brasil. Teve um canal de cinema francês que pagou bem, a única experiência que a gente teve de mercado. Essa coisa de outros caminhos, tem, por exemplo, a Oi Futuro, que também apóia projetos de cinema, mas além de ter que ter aprovado na lei, você precisa ter firma aberta. Então o possível é isso, você ter uma câmera ou um celular, filmar e colocar na internet. Mas acho o mercado muito limitado, vejo as mesmas pessoas fazendo filme todo ano através de lei e os outros mesmo que não conseguem filmar. Por outro lado, para não ficar essa coisa reclamona (não agüento mais todo cineasta reclamando), acho que tem muitos outros fazendo pesquisa de linguagem, colocando idéias os cineclubes e festivais que estão aí. Cara, tem que continuar fazendo. A pica é essa. Vocês (da MFL) são o exemplo vivo disso. É o que você gosta de fazer?! Então faz. Se não tem para colocar do seu bolso, arruma de qualquer lugar. O que não dá é ficar esperando colocar um projeto na lei, isso realmente acho lamentável.
mfl: falem da caixa de dvds que vocês estão lançando.

Gustavo: Como estamos fazendo 10 anos, dividimos os filmes em conceitos. A gente não queria fazer um dvd de documentários, outro de ficção... Aí criamos esses conceitozinhos para colocar em cada dvd “Experimental”, “Mundo Gay”, “Social”, “Alegoria Marginal” e “Território Paralelo”. Escolhemos cinco temas que enquadram bem esses trabalhos.

Léo: É isso, estamos lançando, mais no sentido de proposta, do que físico. A gente não mandou imprimir vários boxs porque não teve grana (ainda). A idéia é fazer uns 50 e distribuir aí para algumas pessoas, vender algumas pela internet e tal. É mais para registrar o trabalho e para que as pessoas tenham mais acesso. Nossos filmes passam muito em festival e mostras, mas fica muito restrito a esse circuito exibidor independente alternativo. E também, por enquanto, a internet ser limitada ainda. O dvd proporciona isso, da gente não precisa ir nos lugares. A gente já participa desse projeto maravilhoso do Cavi, que é o “Curtas na Prateleira”, vou aplaudir porque acho maravilhoso. Tem lá um dvd da Plus. A gente acredita em dvd mesmo, nessa coisa de formato doméstico das pessoas pegarem e verem nas suas casas, ou então pegar e projetar numa festa.

MFL: vocês acham que vocês dois se complementam bastante? você mexe mais com cinema e você mais com a parte artística, é essa complementação que pode se uma das fórmulas da plus ultra?

Gustavo: A gente se mete muito, meio que dividindo assim. Por exemplo, ele edita e eu não gosto de editar, mas eu me meto na edição. E eu faço designer, direção de arte e ele também se mete. Trilha sonora, eu trabalho com música também, mas ele coloca música também. Tem muito dessa coisa definida.Léo: A gente consegue trabalhar muito bem juntos, apesar de ser irmão e brigar para caralho. Consegue chegar num consenso que favorece mais o filme do que a opinião de cada um. Tem esse desprendimento. Muitas vezes ele cede, muitas vezes eu cedo. O legal é que o filme fica do jeito que a gente quer. E tem as pessoas que colaboram sempre. Eu poderia citar o Bernardo, a Paula, a Marcele, o Marco Aurélio... Sei lá, cara, tem tanta gente que eu ico até com vergonha de esquecer alguém.

MFL: para encerrar... o que é um filme livre?
Léo: Eu acho que é um filme que não está atrelado às formas/regrinhas técnicas de fazer cinema ou vídeo. Filme livre vem do coração da alma das pessoas. 

Gustavo: Acho que o filme livre é o que você quer fazer naquele momento, o que pode ser qualquer coisa.

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