E os curtas cariocas premiados s�o...

O Rio de Janeiro foi o estado que mais inscreveu filmes, que mais teve selecionados e que teve mais filmes premiados na MFL 2012. Confira os curtas definidos pela curadoria como destaques desta edição e seus respcetivos e inéditos textos.

 

CASHMAN,  de Tiago Vianna, Mariana Miranda e Gustavo Berocan, Riode Janeiro, RJ

As reminiscências de um homem que, de tanto viver em função do dinheiro, acaba se metamorfoseando e se transformando na matéria de sua própria obsessão. Se no começo do filme o persnonagem estabelece todas as suas relações a partir da sensação de poder que desenvolve com a grana, de repente ele próprio vira o homem- -moeda, numa bem humorada fábula crítica com a falta de limites que nossa vontade de potência pode nos levar.  Por Gabriel Sanna

 

EVA NA PRIMAVERA,  de Dodô Azevedo, Rio de Janeiro, RJ

Um convite para ver junto. Sem teses. A narradora poderia ser turca, judia ou uma indígena vinda de algum país muito exótico. A narradora não tem uma cara, senão  um olhar e a descoberta. Lentamente, vaga pelas ruas de uma cidade natal e uma terra estrangeira, ao mesmo tempo, permeada pela ausência de um pai, suicida, artista, angustiado. Ela, Eva, na contramão da rebeldia do pai, flana por NYC a procura de nada. Busca as referências do pai, encontra sem querer; John Cage, Lou Reed, a geração Beat... são nomes, falam baixinho no pé da orelha. Eva come sorvete de cereja, entra distraída numa festa no parque, ama os esquilos e faz novas amigas de não sei onde. Eva deixa pela primeira vez o Brasil, o mapa mundi está ali, difuso nesta cidade, cosmopolita. Eva gosta de negão batucando em caixa de correio e da torta com chantilly. Sente pena dos livros não roubados do stand no meio da rua. Eva, sentimental, diante das bexigas coloridas que lembram o pai; prestes a explodir, quem sabe, corpo e miolos. Eva perde-se e volta bêbada. O taxista dirige do lado de lá da terra que gira. Eva está solta no globo. Caminhante. Vai devagar. Com a fala mansa de quem não tem destino certo, convida a melancolia...entra, melancolia....e a saudade de não pertencer...à uma coisa alguma. Eva diluída. Meio aos sabores, a memória é uma textura de filme, talvez em Super 8. Um perfume, queimado, recém chegado de um planeta distante. Eva e seus dezoito anos.    Por Manu Sobral

 

HI-FI, de Ivan Cardoso, Rio de Janeiro, RJ

Ivan Cardoso é um monstro sagrado. Autoproclamado o “Mestre do Terrir” numa boa jogada de marketing pessoal, o cara entrou pra história do cinema brasileiro com pérolas como O Segredo da Múmia, As Sete Vampiras e o Escorpião Escarlate, sendo todos caldeirões de várias referências pop, pulp, cultura brasileira, horror, chanchada, pornochanchada, e o que mais viesse. Mas o Ivan dos curtas-metragens é um autor ainda mais único. Parece que é neste formato que ele solta todos os seus demônios de artista plástico, contemplando os nossos olhos com o melhor de uma avant-garde retomada em plena década de 70 pra cima. Foi assim com HO, com À meia-noite com Glauber, com Heliorama e com Hi-Fi, que orgulhosamente iremos exibir na MFL. É neste curta que Ivan nos apresenta seu lado mais  concretista,tendo como base poemas de Augusto de Campos e outros textos (como Finnegans Wake, de  James Joyce) recitados pelo próprio poeta. E, para ilustrar, uma liquidificação de imagens e mais referência, como cenas do curta Entr’Acte, de René Clair (como a notória partida de xadrez entre Marcel Duchamp e Max Ernst) e Cidadão Kane, de Orson Welles. Hi-Fi é um delírio preto- -e-branco como raramente se vê no audiovisual hoje em dia.     Por Christian Caselli

 

LA RENAISSANCE, de Luciana Cavalcanti, Rio de Janeiro, RJ

La Renaissance é de uma objetividade desconcertante. Expele uma atmosfera de mal-estar, quase asquerosa, acerca do personagem principal; um velho atuante e abastado. Seu apartamento é descrito por rápidos fragmentos que decepam o vazio organizado. Bairro burguês de Paris. Foto da criança sorridente. Foto do grupo de soldados também sorridentes. Objetos de antiquário. Mesa art-déco. Abajour de bailarina. E o velho no fundo não abre a boca.

Aliás não há diálogos neste curta. A forma teatral é descartada. Os efeitos psicológicos aniquilados. Rigor e pura observação. Estamos diante da engrenagem. Há uma guerra subterrânea. O velho é a raposa. Aeromoças conectam. Distintos rapazes executam. Esquecem malas. É tudo o que se sabe. E pronto. Frio como os quatro mortos.  Muçulmanos. Africanos. E uma criança. Sugeridos num plano quase final. Um atentado fascista. O filme alerta. Um alerta. Provavelmente aludindo o partido de extrema direita francês. O Front National. Partido de Marine Le Pen. Com 17% das intenções de votos para as eleições presidenciais em 2012. Segundo pesquisa francesa, o partido prega o nacionalismo. A islamofobia. O antiparlamentarismo. O antimulticulturalismo. E outros antis. São sentimentos que afloram na velha Europa, diz sem falar o curta La Renaissance. O curta é tão cruel quanto a constatação. Meticuloso e grave. Nos mínimos detalhes.

Por exemplo: A estação do metrô onde ocorre o atentado no curta é Barbès-Rochechouart. Estação no miolo multicultural de Paris. A mesma estação, onde, em 1941, registra-se. Registra-se o primeiro atentado envolvendo mortos numa estação. Porém, em 1941, os autores do crime eram da Resistência contra o governo Vichy. A força que ocupava a França. Governo fascista. Colaborador dos nazistas. Avô da extrema direita atual.   Por Manu Sobral

 

Confira AQUI quando e onde cada filme passará.

 







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