Indicados ao pr�mio Curta Livre!

O prêmio Curta Livre! é apenas para filmes de até 15 minutos realizados sem apoio estatal.  O premiado receberá da MFL o Troféu Filme Livre! + serviços audiovisuais da Sambacine, TV Zero, Link Digital, IO Transfer, CTAv, Apema, Kodak e Estúdios Mega

Os filmes indicados estão espalhados pelos Panoramas Brasil e podem ser vistos também numa sessão única apenas com eles na Sala de Vídeo CCBB na quarta-feira 14/2 as 15h.

Carvão Promíscuo
RJ | 2006 | 5’ | 16mm/DVD
De Cristiana Miranda
OS TRÊS FILMES de Cristiana Miranda inscritos nesta Mostra do Filme Livre comprovam um trabalho maduro e criativo com os elementos de linguagem. Carvão Promíscuo é um exemplo típico do olhar de Cristiana. Um palito de fósforo riscado atinge os grãos de prata da película, e o processo químico se converte num olhar sobre o desejo. As partículas sujam o quadro, e o grão típico do 16mm assume um trejeito “flicado”, como se a própria natureza incompleta do cinema (o movimento que surge de uma sucessão de quadros estáticos) fosse um reflexo da perenidade da memória e da inconstância do desejo. Um poema de Gullar, recitado por Cabelo, interage com as imagens, e nos revela que o desejo é sujo e lindo, lindo porque sujo, e sujo porque belo. Fe Minino e libertário, transgressor e sublime, Carvão Promíscuo é quase como um sonho, etéreo e passageiro. Como a vida, bom enquanto dura. (MARCELO IKEDA)

Joyce
SP | 2006 | 14’ | 35mm
De Caroline Leone
A DIRETORA Caroline Leone, em Dalva, seu primeiro curta, já havia demonstrado uma grande habilidade para compor retratos intimistas da solidão nas grandes cidades. Em Joyce, ela amplia seu leque como realizadora, ao mostrar o cotidiano de duas irmãs na periferia de São Paulo. Mas ao contrário dos clichês que essa mini-sinopse pode indicar, o curta de Leone vai na contramão tanto da “exploração da miséria” quanto do “olhar terno das criancinhas sobre a vida”. A diretora compõe um retrato humano e delicado ao mergulhar fundo numa proposta de um cinema contemporâneo, de grande interação entre a ficção e o documentário, em que a câmera apenas observa as personagens ao invés de julgá-las. Com uma estética e um tema alinhados, Leone abraça com uma ternura melancólica a vã peregrinação das duas meninas, mas sem nunca cair no melodrama. (MARCELO IKEDA)

A Roda
MG | 2006 | 14’ | Mini-DV/DVD
Direção, Produção, Fotografia, Câmera, Som, Edição e Edição de Som: Gabriel Sanna
Filme dentro do filme (ou ainda, vários filmes dentro de um filme), A Roda, como o próprio título indica, afirma seu processo de circularidade promovendo uma dobra sobre si mesmo. A partir de um diálogo íntimo com a obra de Darel Valença, Gabriel Sanna, herdeiro de uma tradição do cinema mineiro diretamente ligada à videoarte, cria uma obra outra, buscando uma autonomia em relação ao retratado, fugindo do tom meramente documental ou expositivo. Delirante, helicoidal, francamente fragmentado, A Roda, com seu leitmotiv cíclico e circular (o túnel, a roda gigante, a piscina) e sua paixão pela sensação e pela fugacidade (a fotografia, o tom granulado), passa então a ser um trabalho sobre o processo de criação que, ao invés de se curvar diante do que examina, traça, a partir desse contato, outras e outras possibilidades de criação. Ou seja: como bom aprendiz, Sanna subverte a obra do mestre, construindo a partir da desconstrução.  (MARCELO IKEDA)

Eu Sou Como o Polvo
MG | 2006 | 4’ | DVD
De Sávio Leite
PARA QUEM ainda não sabe, Lourenço Mutarelli é um dos principais artistas brasileiros vivos. Primeiramente, destacou-se nos quadrinhos underground, sendo contemporâneo de gente como Angeli, Laerte, Glauco etc. Ao contrário destes, no entanto, não teve o reconhecimento imediato, talvez devido à sua seriedade e aos temas mórbidos que costuma tratar. Porém, seu traço cruel - uma espécie de Expressionismo da era do Grafite - aliado a histórias onde o grotesco toca quase literalmente em chagas do cotidiano, começou a lhe render prêmios e mais prêmios, além de uma guinada para a literatura. A ponto de já ter um livro adaptado para o longa-metragem, o excelente O Cheiro do Ralo, onde, para a surpresa de todos, revelou-se até mesmo um bom ator, fazendo papel de segurança (detalhe: Mutarelli é franzino, baixinho e careca). Retratar um personagem como Mutarelli já é meio caminho andado para tornar qualquer documentário, no mínimo, interessante. Mas o mineiro Sávio Leite teve a sacação de deixar seu filme à altura do seu “personagem”. Valendo-se de um recurso usado por Henri-Georges Clouzot, no filme O Mistério Picasso, Eu sou como o Polvo utiliza um plano-seqüência em alta velocidade, mostrando o próprio Mutarelli desenhando dois bizarros auto-retratos. Em off, um texto autobiográfico lido pelo próprio artista, de onde desabafa seu passado complicado e o quanto o desenho foi a sua salvação. Daí o título do curta, já que o polvo se vale da tinta para se esconder.  (CHRISTIAN CASELLI)

O Buraco
PB | 2005 | 14’ | Hi-8/DVD
De Taciano Valério
“HÁ UM BURACO na minha vida”: assim o protagonista deste doc. define o motivo de seus pesadelos. Aos 82 anos, José Correa, 82, ex-combatente da segunda grande guerra, nos leva seis décadas atrás e, em pleno sertão paraibano, encena, vestido a caráter, seus movimentos para sobreviver na Europa do “Rei Hitler”. Mesmo sendo difícil entender tudo o que ele diz (muito por conta do sotaque etc.), é cativante saber do envolvimento deste homem com balas de canhão, tiros e bombas jogadas dos aviões dos “Tedescos”, e lutando para livrar o Brasil do mal que arruinava a Europa. De dentro de um buraco ele revive seus medos, angústias e vontades... “Conto porque aconteceu, vi o que é uma guerra, escondido num buraco, sozinho, matando os alemães, italianos e japoneses que apareciam...”  (GUIWHI SANTOS)

Circular
SP | 2006 | 14’ | Mini-DV/DVD
De Lucas Iannuzzi
CIRCULAR é um filme anti-capitalista em sua essência, mesmo (felizmente) não sendo nada panfletário. Seu diretor e protagonista, Lucas Iannuzzi, vai mostrando secamente o cotidiano de um balconista de McDonald (é o que se deduz) e, mesmo intercalando suas ações com verbetes de dicionário, mostra como tudo vai perdendo o sentido. O provocador entreato musical, ao som de “l-o-v-e”, de Nat King Cole, vai contra toda a tradição hollywoodiana de “entreato musical”, não só pelo o que é mostrado, como a total frieza dos planos, que quase nunca revelam a identidade do protagonista. Tudo aqui é coisa, porra nenhuma, massa amorfa de um marasmo constrangedor e peça da engrenagem viciada da sobrevivência. É o que fica configurado com o desfecho do filme e na morte nossa de cada dia.  (CHRISTIAN CASELLI)

Sal Grosso
RJ | 2006 | 6’ | Mini-DV/DVD
De André Amparo e Ana Cristina Murta.
QUE TEM A ver churrasco na laje com a filosofia de Heidegger ? Este curta de André Amparo e Ana Cristina Murte mostra que tem tudo a ver... Filmes (Vídeos) como este provam que o cinema não acabou com a literatura, e que no final, só os artistas mandarão. Nada mais prosaico que um churrasquinho na laje. Marido, mulher, sogro (?), assando uma carne num domingo cinzento. Qual a filosofia mais apropriada para um encontro tão ordinário? Comentários sobre as manchetes do jornal O Dia, Extra, O Povo ou o pensamento de Nietzsche? A filosofia sônica de Jorge Mautner e ao fundo um piano...Depois deste filme, você nunca irá num churrasco como antes...
(CHICO SERRA)

Noiva de Deus
MG | 2006 | 13’ | Mini-DV/DVD
De Leonardo Barcelos e Hélio Luar
NO COMEÇO SE DIZ, “Documento é monumento, realidade ficcional de uma memória verdade.”
O olhar é desfocado, o som estranho, tudo se repete como uma mente esquizofrênica não acostumada à lógica linear de se pensar e falar. A todo momento a Ética é questionada: até que ponto é correto o filme caminhar na direção de mostrar os fatos como eles são/seriam ou de reinventá-los da forma como a protagonista os coloca? A direção e a edição do filme são postos em questão, um prato cheio para o espectador se deleitar com as tantas possibilidades de caminho para o filme. Nele, de dentro de um hospital, L.G. conta de forma grotesca e fragmentada um pouco de sua infeliz história de desprezo, sofrimento, amor(?),assassinato, ódio e loucura. Um filme que incomoda talvez por lidar, audiovisualmente e com coragem, com um tema complexo. Um cativante filme cheio de labirintos mentais sem saídas aparentes.  (GUIWHI SANTOS)

Visita Íntima
BA | 2006 | 5’ | DVD
De Isaac Donato
EIS AQUI O exemplo de um curta que consegue ser original, simples, barato, bonito plasticamente e, principalmente, crítico. Ou seja, tudo o que a nossa mostra gosta de incentivar. A partir de fotos de presidiários ilustrados com textos relacionados a tecidos, o diretor baiano Isaac consegue um resultado extremamente forte e reflexivo, sacaneando, de quebra, textos esnobes de moda. O filme é grave, seco, direto e confrontador, e mantém um ótimo diálogo com outro ótimo curta de Salvador, Freqüência Hanói, que também é indicado pela MFL 2007.  (CHRISTIAN CASELLI)

Engoleduaservilhas
RJ | 2006 | 8’ | DVD
De Marão
ESTE É MAIS um projeto do intrépido animador Marão, que teve coragem, respirou fundo e concretizou a seqüência do indigesto Engole Ervilha. Nosso bravo realizador mais uma vez pegou gente boazinha, que trabalha com desenhos bonitinhos de publicidade, e botou a rapaziada pra fazer vinhetas escatológicas e/ou bizarras e/ou desagradáveis. O resultado é isso, ou seja, toda a podridão e os sapos engolidos nas agências são regurgitados por esta gente e espirados para a platéia, mas o resultado é fofo. Ou seja, EngoleDuasErvilhas também é terapia. Destaque para o episódio de Eduardo Perdido, que conseguiu ser mais insano que o seu normal (ele está representado aqui, na MFL, com curta Coisas Legais pra se Fazer num Dia de Chuva). E também para a vinheta do “artista plástico”, a única não escatológica, mas super-sacana e bem bolada.  (CHRISTIAN CASELLI)
 







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