O varal, o sol e certos �vidos haveres...

por Rodrigo Savastano (Publicado no catálogo da MFL 2005)

Oi, bom dia, boa tarde, boa noite.

Antes de tudo, gostaria de me apresentar como o ser por detrás dessas palavras. Não que elas tenham frente ou verso… muito pelo contrário, apenas quero dizer que peguei uns poucos pensamentos pela mão, os estendi num varal, e deixei secar, com o sol e o vento, juntos, por aqui. Quem sabe algo brote, ou ainda, talvez, perceba que este texto é fruto de alguma fecundação anterior, e, quem sabe, alguém a queira decifrar, ou a reconhecer… Nunca se sabe… há louco prá tudo.

Filme Livre é um título, aberto, talvez até demais; pode ser uma direção na qual se aponta, pode ser um termo vazio, oco, não ocupado por qualquer conceito ou já habitante de uma idéia bem qualquer nota de indefinida.

Importa o que está ao redor, abaixo, pela frente, por detrás: importa o que se respira, a direção do esforço, a necessidade de se pensar em agregar pessoas e construir espaços de trocas que não representem a simples compra/venda de mercadorias, que sejam trocas como as de um sinal de fumaça que em relação a um outro, e outro, que subam além do horizonte e se comuniquem por cima das coisas, onde os significados sejam minimamente sólidos a ponto da nuvem brincar de se confundir com uma forma, ou vice-versa. Mas não se engane, atingir a leveza da fumaça é uma tarefa sinistra. Depende da direção, depende do olho e do braço do caboclo que tenta empinar a pipa. Tem que ralar, tem que morrer e nascer algumas vezes, pois crescer é o ato de se explodir constantemente , aos poucos/muitos trancos e barrancos.

O que interessa de livre é isso. O sol. Esse movimento rumo ao alamento da linguagem e de si mesmo, do aprimoramento das leituras do mundo em perspectiva de troca, e das visões que podem se misturar entre os fatos e todas as versões parciais que deles decorrem, afinal, como disse o sofista: no sol cresce o rumo da língua.

Na real, papo reto, cariocamente falando: A parada é o seguinte: à vera é à vera e caô é caô. Sem apelação, o que vale hoje é a veracidade do trabalho, é uma nossa época em que vários festivais (até certo ponto) abrem espaço para fumaças, telégrafos e outras tecnologias comunicacionais. O que é foda não é o filme em si, mas a possibilidade de se encontrar com os outros e, guturalmente, cada uma das expressões bater no próprio peito dizendo ao que veio, como pulsa no mundo, como conta o mundo.

Mas será que existe espaço para tudo isso? Será, desesperadamente, que as pessoas não tentam repetir as outras de modo a tocar no que lhe é caro ou pré conhecido? Será que essas perguntas já não são óbvias por si mesmas? Há problemas, há percalços, há milhões e milhões de figuras submersas num universo complicadíssimo da comunicação de massa, da violência de massa, da ignorância de massa, das dificuldades da sobrevivência em massa. Voltando ao mundo, é preciso arregaçar as mangas e trabalhar prá caraio!!! E fazer com que quem não tenha espaço o construa com suas/nossas próprias mãos. E isso é o que importa: a Mostra do Filme Livre se propõe a ser mais um espaço para secar roupas ao sol.

Por Rodrigo Savastano (dido), curador da Mostra do Filme Livre 2005.
 







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