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Enchente
CONVIDADO

Sinopse: Em 1997 aconteceu uma grande enchente no Rio de Janeiro mas a area mais afetada foi a Cidade de Deus onde várias pessoas morreram e perderam tudo.


Comentário da Curadoria
Por Cid Nader Fazer documentários tem virado quase uma moda no país quando se trata de trabalhar com cinema. Num dado momento da década de 90 alguns novos realizadores passaram a se encantar com um boom iniciado fora daqui em direção do modelo noticioso na telona. Não era coisa nova, mas, junto com a facilidade adquirida um pouco antes com as câmeras ágeis que passaram a surgir no mercado desde o advento do VHS, percebeu-se que documentários poderiam surgir sem o peso complexo do maquinário que engessava pretensões, a produção multiplicou a “n” e entramos na onda. Entre muitos erros – coisa evidente de se supor quando quantidades aumentam -, e bons acertos, ousadias sendo tentadas e craques como Eduardo Coutinho querendo desconstruir lógicas estabelecidas para revelar que o formato tem muito mais âmagos do que somente o da notícia acima de tudo, vejo aqui em Tiradentes (2011) um trabalho especial, que se desprega de fórmulas, aproveita-se dos instantes intermediários da utilização dessas câmeras ligeiras (meados dos 90, quando o VHS já era um “bicho” de meia idade), quando “apropria-se” de fortes registros caseiros realizados in loco por um morador da região afetada (falarei mais à frente da conjunção de imagens utilizadas que se somam a essas), e compõe o todo essencial de sua jornada com um inequívoco sentimento de proximidade dos dois realizadores (uma dupla inseparável – nunca vi separados, em 5 anos: um, sem que o outro não estivesse no mesmo campo visual) com o assunto que foi tratado. Enchente fala especificamente de uma grande catástrofe que aconteceu na Cidade de Deus, Rio de Janeiro, no ano de 1966, quando perto de 100 pessoas morreram afogadas, e que mudou de maneira drástica as feições físicas de uma localidade já pobre por natureza, habitada por pobres, e alvo fácil do esquecimento por parte do poder público. Julio Pecly e Paulo Silva eram moradores de lá na época, perderam muito do que tinham (mas pelo que ouvi depois, mais do que coisas palpáveis, textos e roteiros que acumulavam sonhos de realizações), sentindo-se íntimos (participantes, na verdade) o suficiente do assunto, a ponto de concretizarem um filme que acaba por ser um depositário, também, de seus dramas. Por conta disso, um dos diferenciais do trabalho já se estabelece instantaneamente quando percebemos, vez por outra, a imagem de um deles “participando” do quadro em que algum depoente relata fatos acontecidos naquela época. Tal atitude, antes de desleixo ou pretensão à fama, revela que tratar o assunto, para eles, era uma questão quase de expiação, de remexer dramas, de resolver problemas restados. Não é fácil tomar tal atitude sem o risco de acusações levianas surgidas na rapidez de análise; tanto quanto é fácil entender a potência de tal ato na força dramática obtida dos dramas sofridos. A forma mais evidente (pois salta aos olhos sem que nenhum esforço maior seja necessário) de perceber que Enchente é “diferente” está na utilização das imagens do momento: algumas bem fortes, obtidas pelo registro da cobertura da Rede Globo (muitas delas não utilizadas, pois traziam cenas de raridade ao “estômago” frágil do espectador comum) e que jamais sairiam dos arquivos se não houvesse algum interesse tão específico como esse; outras, talvez as melhores, obtidas por um morador local (Zezinho), que com sua VHS registrou toda a tragédia por horas, como se fosse um diário da desgraça (onde se percebe o avançar do tempo pelo relógio que fica ligado abaixo, enquanto se constata a água avolumando impressionantemente – sem que a chuva fizesse força para tal), que se locomove, filma vários recantos, indo, inclusive, até a rua, para uma “brincadeira” impensável em tal circunstância (quando seu irmão veste um terno sabe-se lá vindo de onde, empunha um microfone e obtém depoimentos). Interessante é perceber que, cada um com sua técnica, o trabalho de reportar via imagens pode ser complementar – as imagens da Globo são tomadas de cima, sem o pé na lama, com técnica (nada contra, só a constatação), enquanto as do meio do inferno acabam por completá-las (já que quem as fez estava lá mesmo). Pelo fato de os diretores serem de lá e não terem medo de errar, alguns depoimentos obtidos nos dias de hoje (um fechamento trítico dos modelos utilizados para a realização) são mais carregados de doação (contrastando com os dados no instante, aos repórteres, que vinham cheios de medo e cobranças, mas complementando-se); pelo mesmo fato, erros mais evidentes (há alguns bem óbvios como o da utilização desnecessária de letreiros explicando por sinônimos e figurativamente termos como, chuva, tempestade, ventania...) talvez passem de forma menos incomodativa: coisa que não pode ser regra aceitável na hora das análises, mas que tem várias razões para serem relevados aqui. Um filme digno. Fonte: CINEQUANON, http://www.cinequanon.art.br/

PROGRAMAÇÃO

Direção: Julio Pecly
Duração: 60min
UF/Ano: RJ/2010
Classificação Indicativa: 10 anos
Equipe: Cavi Borges -produtor Julio Pecly- diretor e roteirista Paulo Silva- diretor e roteirista Pedro Asbeg - montagem

Contato: Cavi Borges - cavicavideo@gmail.com
   
   

(informações fornecidas pelos filmes no ato da inscrição online)





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