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O tempo Não Existe No Lugar Em Que Estamos
CONVIDADO

Sinopse: Aldo, ex-repórter fotográfico, é demitido da universidade onde leciona bem perto de se aposentar. Sem perspectivas de emprego, decide vender seus antigos instrumentos de trabalho, além de outros objetos de seu escritório e queimar parte de seu acervo de fotos. A partir daí, uma série de acontecimentos imprevisíveis mudam sua vida. Um filme sobre o tempo e suas memórias.


Comentário da Curadoria
Por Cid Nader Quando a câmera se fixa na figura de olhar um tanto entristecido, um tanto desatento, um tanto fugidio e mais outro tanto saudoso de André Gatti, nos depoimentos que emprestam ao filme a “falsa” impressão de que estamos diante de um trabalho híbrido – pois o personagem Aldo era um fotógrafo há décadas que sofre os males da modernização das mídias e dos conceitos que a velocidade traz embutido, e em trechos de emendas do filme surge dando depoimentos como se fosse para um documentário-, uma das apostas da carreira de Dellani Lima se reafirma, com potência, com beleza (não há como não se emocionar a figura do fotógrafo que só tem o envelhecer e a aposentadoria pela frente), que é criar figuras que transitam por seus filmes com algo de muita profundidade humanista (inclusive tendo a simplicidade como a maior característica, por vezes) mesclada com “naifismo” na atuação (ou imposição na atuação que busca muito mais a proximidade com as indecisões do ser comum no dia a dia do que com certeza do grande e “domado” ator). A figura de Aldo, de alguma maneira traz a carne e o espírito que são da essência maior da longa obra do diretor. Quando a edição de O Tempo Não Existe no Lugar em que Estamos desvia do atuado para atentar a fotos que preencherão o quadro em momentos pilares, ou quando atenta aos vazios, vãos entre os prédios, janelas e paredes, a certeza de que a imagem (mais ainda do que o significado evidente e forte que ela carrega nesse trabalho, com a coisa da memória que esvai, com a perda do sentido do valor na atenção máxima pelo surgimento do digital...) é outro quinhão de uma obra, e sedimenta mais ainda características: e isso está na atenção que as lentes de Dellani sempre dedicaram ao que é de ser mostrado, num reforço de que sempre houve nesse autoralismo a certeza da importância do trabalho como o visado sendo o (ou um dos) elemento(s) de maior importância (mesmo quando ele executou esse quinhão de maneira mais despretensiosa, ou mais equivocada, isso sempre caracterizou uma marca inquestionável na sua carreira). Resulta bonita a atenção aos detalhes sendo destacados para fora da composição de outros quadros mais amplos (onde acontecem as situações e atuações), emprestando ao filme características formalistas que, exemplam um momento específico de nossa cinematografia (onde um certo rigor formalista se instituiu e se faz perene), e são representação “viva” do modo de “enxergar” a vida do personagem principal. Quando acontecem algumas sequências basicamente de atuação - o diálogo da esposa de Aldo com a filha, na cozinha, contando da conversa que teve com o marido (bom lembrar que a história conta de um ex-fotógrafo de jornal que não consegue se adaptar aos novos tempos das câmeras digitais, que tem a filha tentado voltar ao lar nuclear por problemas no casamento, e que tal situação novidadeira adensa demais ainda os dramas próprios dele, o que o leva a conversas com a esposa e escapes no antigo escritório do apartamento) parece um tanto frágil, muito como, “uma fala", pausa 'a outra fala", espera, aí uma fala novamente; ou na conversa após um problema, fora do lar, quando alguém explica as razões do problema e não compreende algumas consequências (consequência que tem a ver com memória, com fim de um ciclo, com a perda delas pela “dispensa em fogo do papel filme”, numa bela associação metafórica que resume tudo o que filme tem na base, na essência) e que parece um tanto didática demais; ou na longa conversa da filha com ele quase ao final -, para quem não conhece o modo do diretor pensar cinema pode ficar a sensação de que há ali somente desatenção com o obtido. Mas vele lembrar que toda sua obra sempre foi bastante (e propositalmente) voltada aos diálogos sendo executados como forma mais artificial, como um apêndice ao mostrado: não sei se influência do cinema marginal se coisa dele mesmo, mas que constatada a ação em conjunto faz tudo mais palatável. Ao final, o que se tem e constata é basicamente o que filme propôs desde sempre – naif ou não, inventivo, com a quebra pelo falso hibridismo (“falsificar” hibridismo, pra mim, é um pulo raro e ousado que empresta muito mais importância ao todo), na beleza das imagens, no parto ao vivo... -: ser lugar que discute a vulgarização da memória e a perda da dimensão do humanismo diante disso que é a veloz e inócua modernidade, basicamente. E o faz lindamente, humildemente, até singelamente. P.S.: lindos os instantes da narração do último dia do mitológico Repórter Esso. Fonte: CINEQUANON, http://www.cinequanon.art.br/

PROGRAMAÇÃO

Direção: Dellani Lima
Duração: 77min
UF/Ano: MG/2015
Classificação Indicativa: 16 anos
Equipe: Produtora: Colégio Invisível Produtor: Ana Moravi Diretor: Dellani Lima Roteirista: Dellani Lima Diretor de Fotografia: Lucas Barbi Diretor de Arte: Simone Cortezão Trilha Musical: Miguel Javaral Montagem: Ana Moravi & Dellani Lima Trilha Sonora Original, Compositor: Miguel Javaral Desenho de Som: Dellani Lima & Miguel Javaral
Elenco: André Gatti, Ana Paula Condé, Julieta Dobbin, Rodrigo Lacerda Jr, Rodolfo Andrade, Carmélia Viana
Contato: Wilson Dellani Pinto Lima - dellanilima@gmail.com
   
   

(informações fornecidas pelos filmes no ato da inscrição online)





Mostra do Filme Livre 2015 | Desenvolvimento: Rivello/Menta