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Homenagem a Joel Pizzini na MFL 2008

Joel Pizzini  é o grande homenageado da sétima edição da  Mostra do Filme Livre, que começa nesta segunda-feira, 18-02,  com sessão especial seguida de coquetel e muita alegria, no Centro Cultural Banco do Brasil. As próximas três semanas prometem ser quentes pelo centro do Rio. A obra completa de Pizzini será exibida nas salas de cinema e vídeo. No sábado, dia 23, Pizzini conversará com o público após sessão com seus curtas em película.

Em um texto clássico, Pier Paolo Pasolini propôs uma diferença clara do que chamou de “cinema de prosa” e “cinema de poesia”. Sem estabelecer valores entre estas duas modalidades, definiu que a primeira estaria para a narrativa tradicional, em que, através da representação de atores, forja-se uma simulação de realidade para gerar uma identificação de situações, cotidianas ou não, por parte da platéia. Já para o cinepoema, isto era o que menos importa, mas sim a experimentação de linguagem em prol de sensações mais diversas.

Influenciados ou não por Pasolini, vários cineastas brasileiros que seguem a linha poética, mas poucos os que assumiram tanto esta bandeira quanto Joel Pizzini. Não à toa, sua estréia no curta-metragem foi o premiado e importante “Caramujo-Flor”, baseado na obra do poeta Manuel de Barros. E assim foi seguindo com outros curtas e médias (como a série de biografias que fez para o Canal Brasil), até chegar seu primeiro longa, “500 Almas”, onde se viu em uma encruzilhada: como documentar um drama indígena mantendo-se fiel às suas concepções? O resultado é o que veio a chamar de “etnopoesia”, termo que lhe deu sustentação para seguir em frente e concluir o filme, após anos e anos de filmagem.

E é com muito orgulho que a MFL homenageia Pizzini – até seria inevitável, já o mesmo recebeu duas vezes o nosso troféu “Século xx” e foi jurado na edição de 2006. E temos mais orgulho ainda porque o seu mais recente longa-metragem, “Anabazys” – premiado em Brasília com a melhor montagem – será exibido pela primeira vez no Rio através do nosso evento. Mas ninguém é melhor do que o próprio cineasta para descrever sua trajetória – por isto, montamos aqui uma  ampla entrevista para que o próprio cineasta se exponha para todos nós.  (KZL)

Pizzini por Pizzini - entrevista a ser publicada na íntegra no catálogo da MFL2008 e depois na rede.

“o Cinema me salvou, foi a conclusão que cheguei.
Salvou da mediocridade”.

Nasci em 1960 no Rio, mas aos 6 meses de idade caí em Mato Grosso do Sul, Dourados, que é uma cidade quase na fronteira com o Paraguai. Minha infância foi toda lá, subindo em pé de abacate, brincando muito no quintal, me servindo da amplidão. Acho que foi importante essa infância livre. É o momento que você aprende a brincar, o momento do jogo. E isso de algum modo está  no meu trabalho, presentificando a idéia do meu cinema que tem uma veia lírica, que tem algo de  lúdico, que almeja o prazer estético. Isso tudo vem um pouco de uma infância reinventada. Então o Rio é a ficção que eu estou vivenciando agora.

No interior você não sabe direito qual vai ser “o seu curso”, daí, eu inadvertidamente caí lá na faculdade de Engenharia, na Universidade  Federal de Mato Grosso. Lá tinha o Cineclube Coxiponés, que é o mesmo por trás do Festival de Cuiabá. Comecei a ver filmes e falei: “o que  estou fazendo na engenharia?”. E fui trancando as matérias exatas: “Cálculo 1”, “Cálculo 2”... (ao lado, foto do filme ´Abry`)

Eu procurava algo nas artes, mas não tinha  muita informação, nem muita referência. Aí fui assistir a uma palestra da Cremilda Araújo Medina, editora do Suplemento cultural do Estadão na época. Vi e fiquei alucinado. Isso aí era 1979, 1978, início da abertura política no Brasil, quando a imprensa tinha algo de utópico que atraia todos os que queriam expressar sua inquietação. Falei: “nossa, é por aqui, está esquentando...”. Decidi ir para Curitiba, onde tinha Jornalismo e Sociologia, dois cursos que eu perseguia. Através deles se deflagrou toda minha possibilidade/janela para o cinema. Havia um diretório super-ativo e me envolvi no movimento estudantil; fui vice-presidente do diretório da universidade que englobava 12 cursos da área de humanas e organizamos várias atividades. Tinha uma disciplina de cinema no curso de comunicação e fiz experiências em super-8. Acabei me aproximando muito da Cinemateca de Curitiba, que tinha uma programação intensa ligada a filmes europeus. Assim, comecei a perceber uma outra luz no cinema, além do circuito normal. Me aproximei do Instituto Goethe, Aliança Francesa e comecei a organizar programações e seminários ligados à  Cinemateca.

E foi em 1979 que assisti a “Limite”, do Mário Peixoto. Foi um acontecimento, um divisor de águas pra mim, pois desde a adolescência cometia  meus poemas e percebi naquele momento que podia fazer isso no cinema. Pela primeira vez  eu tinha visto um filme essencialmente poético, fui inundado por imagens sem uma narrativa linear, sem concatenar uma história, uma trama. É claro, fiquei muito tocado, a ponto de decidir,  inconscientemente, a fazer cinema naquele momento.

Acabei caindo na aventura de ser assistente de  direção de um filme sobre a Guerra do Paraguai, “A Guerra do Brasil”, de Sílvio Back, feito em Mato Grosso do Sul. Foi legal ter participado, mas  o “Limite” continuou na minha cabeça. Falei: “Não sei se eu quero exatamente documentário, no sentido jornalístico da palavra”.

A entrevista completa está no catálogo da MFL, a ser lançado na abertura do evento e depois distribuído gratuitamente ao público do mesmo.

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