tweets
Saiba os 3 longas premiados na MFL 2011

Os longas "Mulher a tarde" (MG) , "Estrada para Ythaca"(CE) e "Estado de Sítio" (MG) receberão o troféu Livre! na décima edição do evento, que começa dia 11 de março nos CCBBs do Rio e de São Paulo, indo até o dia 31, exibindo mais de300 filmes brasileiros, 90% deles feitos sem apoio estatal direto!

Diferentemente da maioria dos festivais de cinema, a própria curadoria da décima MFL, além de definir quais filmes vão participar do evento, também decidiu quais os filmes merecem ser destacados com o troféu Livre!.

http://www.mostralivre.com/

Os motivos para tal singular ação são vários, a começar pelo fato de que cremos que ninguém melhor do que a curadoria, que viu todos os filmes inscritos, para definir, programar e daí destacar com o troféu os filmes que tenham mais a ver com o evento, que se considera conceitual. Como assim? Ora, gastamos meses, na verdade anos, divulgando o que somos e o que queremos ser, enquanto evento experimental que busca valorizar e assim potencializar filmes independentes em sua linguagem e, de preferência, feitos por conta própria, feitos mais por amor à invenção do que por vontades comerciais. Nada contra quem isso busca mas na MFL queremos mais, queremos ARTE, filmes que revirem esta cada vez mais presente na vida de todos, ´vida`e/ou ´linguagem audiovisual`. Além dessa busca por novas estéticas no audiovisual feito no Brasil, é um PRAZER imenso dizer que novamente 90% dos filmes inscritos e selecionados foram realizados sem apoio dos governos. Mostrando mais do que nunca que de fato a produção autoral e independente brasileira tem produzido muito, faltando exatamente mais lugares para serem escoadas e, assim, quem sabe, também renderem algo além de aplausos e troféus para seus realizadores. A MFL se permite, a cada edição, ser moldada pelos filmes que exibe, inventando sessões, modas e ações que naturalmente fogem do normalmente visto em eventos audiovisuais. O próprio troféu filme livre!, feito com material reciclado pelo Umbigo Group, prova que tipo de glamour queremos ser e propagar como ideal.

Então é com carnavalesca alegria que anunciamos que este ano 3 longas e diversos curtas serão premiados. Os longas são os já citados, que ganharam também, como de costume, um breve texto feito pela curadoria contexttualizando a premiação. Na abertura da MFL, em 10-03, serão sabidos os curtas premiados. O troféu filme livre! será entregue aos realizadores na exibição dos filmes no cinema 1 do CCBB Rio. Confira abaixo os textos inéditos sobre os 3 longas e em breve os textos dos curtas mais livres de 2011. E a programação completa da MFL você acha AQUI.

ESTADO DE SÍTIO  (Inédito no Rio!  ; )
de André Novais Oliveira, Gabriel Martins , Flávio C. von Sperling, João Toledo, Leonardo Amaral, Leo Pyrata, Maurílio Martins, Samuel Marotta.

Em 2010, um OVNI tomou de assalto o circuito dos festivais brasileiros, ganhando uma inesperada recepção: o cearense Estrada Para Ythaca. Esse filme apontou para a viabilidade de um novo processo de produção: um filme de ficção realizado de forma coletiva por quatro autores, organizando-se em todas as funções de realização, sem hierarquia previamente definida, feito “na raça”, sem nenhum recurso público. Para além desse modo de produção, Ythaca acabou sendo visto sobretudo como uma espécie de um manifesto de uma geração, uma terna odisséia em culto à amizade, em ver o cinema essencialmente como vocação, e não como profissão. Esse espírito parece ter contagiado um grupo de autoes curiosos de Belo Horizonte, que já vinham percorrendo os festivais no Brasil primeiro como críticos, escrevendo para o site da Filmes Polvo, e depois como realizadores, fazendo curtas inventivos, com grana própria.

De um lado, Estado de Sítio dá continuidade a um caminho desse grupo (em torno da crítica da Filmes Polvo, e de duas produtoras informais, a Filmes de Plástico e a Sorvete Filmes). De outro, pode ser entendido como uma espécie de busca por novos rumos do cinema mineiro, contrapondo-se ao cinema de grande rigor visual e de refinamento plástico, sintetizado nos filmes da Teia. Em geral, são filmes radicais, descontínuos, ingênuos, com uma ironia cáustica, um certo escrache. Todos esses elementos estão nesse primeiro longa de oito diretores. É como se enquanto Ythaca é um road movie pelo interior do Ceará na busca dos rastros de um amigo morto, Estado de Sítio na verdade fosse um road movie dentro de uma colônia de férias em busca de nada mais que um passatempo. A ingenuidade e a superficialidade desse encontro expressam, de forma bastante clara, a beleza e as limitações do processo desse
grupo. É como se Estado de Sítio avançasse por um flanco que Ythaca abriu mas que o filme posterior do coletivo cearense, Os Monstros, mostrou que na verdade não era exatamente esse. De qualquer modo, o encanto de Estado de Sítio é a possibilidade de estar juntos: um filme sobre a leveza da aventura de con-viver. Além disso, Estado de Sítio é um filme de juventude: não só sobre jovens mas essencialmente uma forma jovem de encenar. Esse tom inconsequente e debochado é no entanto retratado através de uma mise-en-scène sóbria, com planos longos, vários deles com uma câmera parada que explora a profundidade de campo, mostrando a movimentação dos diversos atores-autores ao longo do quadro como se fosse um imenso tableaux. Refinamento de uma encenação que aponta pouco para si mas que deixa transbordar esse esfuziante sentimento de uma alegria pouco presente no cinema contemporâneo brasileiro. Elegância no meio da fuleragem. (Marcelo Ikeda) 

 

ESTRADA PARA YTHACA
de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti

Road movie dos irmãos Pretti (Luiz e Ricardo), realizado em parceria com Guto Parente e Pedro Diógenes, Ythaca é um brinde à resistência. Resistência as possibilidades fáceis do cinema de ficção ou experimental, e uma tentativa de levar a experiência de fazer cinema independente até as últimas conseqüências, assumindo todos os riscos e precariedades que um filme de baixo orçamento poderia apresentar. Mas a invenção é mais importante que qualquer planilha orçamentária. 4 amigos saem em busca da mística ilha (?) de Ythaca, após uma noite de beberagens e cantorias (de Nelson Cavaquinho a Paralamas do Sucesso): um carro furtado é o motor de fuga (do lugar-comum), e as bebidas e comidas na viagem surgem através de licença poética. No caminho, uma fogueira comunitária serve de preparo pra comida e pretexto para contemplarmos a restinga. Céus nebulosos e pedreiras ancestrais ajudam a “contar a estória”, que aliás não existe...  A estrada da trama é o pretexto para um novo caminho estético do cinema independente; uma seqüência parodia a encruzilhada de Godard (de vento do leste), apontando os caminhos do cinema do terceiro mundo e do cinema desconhecido…Um luminoso disco voador invade a tela, uma câmera no bar que balança mas não cai (salva pelo ator/diretor, em cena memorável); a lição de Ythaca: mais importante que chegar ao destino é a linda viagem. E as riquezas que se pode adquirir no caminho... (Chico Serra)

 

MULHER À TARDE
de Affonso Uchoa

Filme (quase) cíclico, observacional. Três mulheres tentam passar o que será talvez seu último dias juntas, compartilhando tarefas comuns em poucos metros quadrados: uma cozinha, um corredor estreito, uma varanda com piscina (também não muito espaçosa) e seus quartos de descanso e memória. Seu tempo neste espaço é dividido em capítulos subjetivos ( “Mulher e a cor branca” , “Mulher com o sol sobre os joelhos”, “Mulher com a luz entre as mãos” … ) e suas neuroses são sutis, incrivelmente sutis, superadas pelo subjetivo conflito de idéias sobre vida, morte e memória (o longa-metragem é todo filmado com tripé e câmera parada, permitindo pausas para reflexões e estados emocionais completamente contemplativos, em belos e
longos planos fixos). A sutil movimentação das personagens em campo vai além das possibilidades de uma direção convencional, dramática, e supera o  desafio de um filme quase todo de interiores (a interioridade aqui acaba tendo sentido muito mais amplo que o espaço do quadro…). A fotografia é precisa e discreta, sua rigidez acaba provocando um certo distanciamento das ações cotidianas, colocando em evidência mais interrogações do que certezas. O trabalho coletivo das atrizes/personagens é orgânico, e esta intimidade cria um conforto aparente, e o filme segue entre o afeto cotidiano e os conflitos existenciais e das próprias relações de intimidade/distanciamento, dentro do espaço comum e seus refúgios (o quarto, a janela para o prédio em frente, que reflete a luz do relâmpago e a piscina na varanda). O mundo exterior parece muito, muito distante, e se resume ao plano dentro do ônibus e a seqüência no supermercado (sem nenhum diálogo e quase toda desfocada propositadamente). Neste momento, a mulher que contempla um interlúdio no seu trabalho cotidiano é a funcionária que trabalha como caixa do supermercado, aparentemente uma personagem da vida real, filmada a uma certa distância, como se aquele plano (documental?) sublinhasse o longo tempo reflexivo das protagonistas. (Chico Serra) 

Confira em 11 de março os curtas premiados na MFL 2011.









Mostra do Filme Livre 2011
Desenvolvimento website: Rivello.net