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O cinema possível de Alberto Salvá

Nascido na Espanha, Alberto Salvá desenvolveu uma filmografia bastante brasileira, em especial peculiarmente carioca. Apesar de ter-se envolvido em uma gama de atividades no cinema, como produtor, documentarista e diretor de fotografia, o típico trabalho de Salvá foi como roteirista e diretor de crônicas amorosas de costumes. Desde os episódios de Como vai, vai bem?, passando por outros filmes como Ana, a libertina e Inquietações de uma mulher casada, o cinema de Salvá se debruçou sobre “as dores e as delícias”, “na carne e na alma”, de se entregar a um relacionamento, de se dar ao outro, mas sempre com um certo lado cômico, que o aproxima das crônicas de costumes tipicamente cariocas, dialogando com as pornochanchadas.

Seu filme mais conhecido é A menina do lado, com Reginaldo Faria e Flávia Monteiro, grande sucesso de público do final dos anos oitenta, quando o cinema  brasileiro vivia boa fase de diálogo com o público mas que iria durar pouco. Com o Governo Collor e a decadência do cinema popular de mercado, Salvá não conseguiu mais realizar filmes, dedicando-se a ser professor de roteiro e direção. Na era das leis de incentivo e seus editais de projetos politicamente corretos, o cinema de Salvá não tinha mais vez. Em 2010 retorna à direção com o que viria ser seu último filme: Na carne e na alma. Financiado pelo próprio diretor, com um baixíssimo orçamento, sem leis de incentivo, rodado em vídeo, com uma equipe formada basicamente por ex-alunos, Salvá faz uma espécie de declaração de princípios de seu cinema: um cinema popular possível. Logo depois, Salvá veio a falecer, sem conseguir ver seu derradeiro filme ser lançado comercialmente, tendo sido recusado na grande maioria dos festivais de cinema no país.

O tom escrachado, direto, quase grosseiro, sem meias palavras ou “pedidos de licença”, permaneceu incompreendido. Na carne e na alma surpreende por ser um filme jovem, não somente uma comédia adolescente sobre jovens que tentam descobrir o que é o amor e a vida da única forma possível (amando ou vivendo: o cinema de Salvá é um cinema essencialmente prático, “do fazer”, e não teórico...) mas especialmente pela vitalidade da encenação, por seu desejo quase juvenil em fazer um filme com as condições possíveis.

A Mostra do Filme Livre faz uma pequena homenagem ao diretor Alberto Salvá, exibindo seu último filme, Na carne e na alma, livre em seu modo de produção de baixíssimo orçamento e em seu espírito jovem, inquieto e irreverente.

Por Marcelo Ikeda

 

Sessão de "Na carne e na alma" neste domingo, às 17h no Cinema 1 do CCBB, entrada franca.









Mostra do Filme Livre 2011
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